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Uma aula diferente: a guerra colonial foi à escola!

Escrito por Webmaster. Publicado em Escola Secundária de Esmoriz

Trazer a comunidade educativa à sala de aula foi o objetivo perseguido – e conseguido – com o testemunho, na primeira pessoa, de dois familiares de alunos que serviram Portugal na guerra colonial. Um na Guiné, numa única comissão – o serviço militar obrigatório assim o determinava, – e outro em três comissões, em Angola e Cabinda mas também em Moçambique, porque numa situação profissional.

Da Guiné, o sr. José Silva, avô dum aluno do 9.º E, a 4 de maio, deu conhecimento de facto do percurso até lá chegar: primeiro na metrópole – Aveiro onde assentou praça e teve lugar o juramento de bandeira, depois Leiria, Santa Margarida, Lisboa, já mobilizado, e no Índia até Bissau, logo em 1963, o ano que iniciou as hostilidades militares. Depois Santa Luzia, Biombo… as novas armas, as munições e as armas pesadas, os tiros e a diversão: “devo ter atirado mais às aves que a um inimigo que muito raramente vi”.

Quantos… matei, como me perguntam tantas vezes, não sei sequer se matei alguém. E “se eu alguma vez tiver dinheiro era à Guiné que eu gostaria de voltar”. Mais difícil era quando chegavam a locais diferentes – que condições iam encontrar? E o correio, tantas vezes atrasado, os aerogramas que todos ansiavam com as novas da pátria, que ansiedade, que expetativa! Depois a doença e a evacuação, agora de avião. Sobretudo a alegria do regresso não tem preço. E os encontros com os camaradas que alimentam a alma e os levam a recordar tempos que já não voltam, infelizmente cada vez menos e com menos vozes. O tempo e a vida vão-nos separando e buscamos refúgio na saudade. Testemunho marcado pela simplicidade e ainda por tanta diferença entre o cá e o lá, usos e costumes, os modos de vida que a memória regista e que a guerra proporcionou. E que os álbuns amavelmente desfolhados deixam entrever. Mais tempo e essas imagens também chegariam a todos os alunos e despertariam outras curiosidades.

Mais vasto porque mais diversificado e mais prolongado no tempo, o testemunho do sr. António Ribeiro, a 8 de Maio. Um testemunho mais professoral, com os números totais – tantas baixas e a efeméride que recorda as baixas na II Guerra Mundial – mas muito raramente a morte entre os seus camaradas, felizmente. Percursos no mato, picadas, emboscadas, dificuldades ligadas ao abastecimento, rações de combate com os enlatados… situações críticas, muitas, que urgiam ser vencidas. Hesitar podia ser o fim, havia que acreditar que se era capaz de superar tudo num esforço humano gigantesco porque essencial na nossa condição física, mas também psíquica. A árdua tenacidade a buscar forças e coragem onde não se pensava existirem ainda. E, na segunda comissão, Cabinda, onde viu nascer o pai do nosso aluno do 9.º F e as anomalias que o atraso do héli proporcionou. Mas tudo bem quando acaba bem!

Depois Moçambique, agora no campo da morte porque lá no Norte, entre os macondes, onde os surpreende a notícia, já alguns dias depois, da Revolução de Abril e da Liberdade. E tantas dúvidas e medos e incertezas! A guerra mudara radicalmente, e tão depressa, e a morte a rondar os militares – cinco tombaram para sempre. Isto é, a maior incerteza e a maior dificuldade quando se caminhava a correr para a paz.

E lá vem o testemunho de encontros anuais, com os camaradas de armas, e o recordar das dificuldades mas também do convívio que alimenta o espírito e nos enriquece humanamente. Afinal, viver também é recordar!

Os alunos revelaram interesse por estes testemunhos, prestaram atenção, deixaram-se envolver na exposição, mas infelizmente e porque apenas o tempo de uma aula não se proporcionou a interação de perguntas e respostas; porém, fica o desafio para outras oportunidades. E há tantos aspetos a explorar que sobretudo a curiosidade pode desenvolver a ponto de a um ponto se ter de acrescentar mais um ponto. E da escola, aquela lembrança – um simples caderno – que simboliza também um regresso à escola que forma os nossos porque os alunos são o prolongamento do nosso ser. O nosso MUITO OBRIGADO!

FFG (Maio.2017)